O Inconsciente no Corner Office: Como a Psicanálise Explica as Decisões de um Líder
- alexhamada2
- 5 de ago.
- 3 min de leitura
Um líder promove um colaborador que todos na equipe consideram menos preparado. Outro, insiste em uma estratégia que já fracassou, movido por uma "intuição" teimosa. Um terceiro tem um padrão de contratar pessoas que são cópias de si mesmo, limitando a diversidade da empresa.
Essas são decisões de negócio. Mas elas são puramente racionais?
No mundo corporativo, cultuamos a lógica, os dados e as planilhas. Acreditamos que os líderes, sentados em seus escritórios com vistas panorâmicas, tomam decisões baseadas em análises frias e objetivas. E se eu lhe disser que as forças mais poderosas que moldam o futuro de uma empresa não estão no mercado, mas sim no inconsciente de quem a lidera?

O que é o "Inconsciente" no Contexto da Liderança?
Quando a psicanálise fala em inconsciente, não se refere a algo místico. Pense nele como um imenso reservatório psíquico. Ele guarda todas as nossas experiências, histórias, medos, desejos reprimidos e padrões de relacionamento formados desde a infância. É o "sistema operacional" que roda em segundo plano, influenciando 95% de nossas escolhas sem que o nosso "eu" consciente perceba.
Para um líder, esse sistema operacional invisível está ativo durante cada reunião de conselho, cada avaliação de desempenho e cada decisão estratégica.
A Transferência: Da Sala de Análise para a Sala de Reuniões
Um dos conceitos mais poderosos da psicanálise para entender a dinâmica corporativa é a transferência. De forma simples, é o processo de "transferir" sentimentos e padrões de relacionamentos passados (especialmente com figuras de autoridade, como pais) para pessoas no presente.
No ambiente de trabalho, a transferência acontece o tempo todo:
O "filho preferido": Um líder pode superproteger ou promover um funcionário que, inconscientemente, o lembra de um irmão mais novo ou de uma versão mais jovem de si mesmo. Não é sobre mérito, é sobre repetição de um padrão afetivo.
A rivalidade com a autoridade: Um gestor pode entrar em conflito constante com um diretor específico porque este ativa a mesma sensação de desafio que ele sentia em relação a um pai crítico e exigente. A briga não é sobre o budget, é sobre uma pendência antiga.
O padrão nas contratações: Um CEO que inconscientemente busca aprovação pode tender a contratar executivos que o bajulam, em vez daqueles que o desafiam, recriando uma dinâmica familiar onde ele precisava agradar para ser aceito.
Essas dinâmicas não são intencionais. São automáticas. E seus custos para a organização são enormes.
O Impacto nos Negócios: Consequências do Piloto Automático Inconsciente
Ignorar a dimensão inconsciente da liderança não é apenas uma oportunidade perdida de autoconhecimento; é um risco estratégico. As consequências incluem:
Viés na Tomada de Decisão: As escolhas são contaminadas por preferências e aversões pessoais que nada têm a ver com os objetivos da empresa.
Cultura Organizacional Tóxica: Um líder com questões de autoridade não resolvidas pode criar um ambiente de microgestão e medo. Um líder com necessidade de ser amado pode criar uma cultura que evita conflitos necessários.
Limitação da Inovação: A tendência a repetir padrões e contratar pessoas semelhantes bloqueia a entrada de novas perspectivas, essenciais para a evolução.
Ciclos de Autossabotagem: A empresa fica presa em padrões repetitivos de fracasso, sem nunca entender a verdadeira raiz do problema.
O Caminho para um Líder Mais Consciente
O objetivo não é eliminar o inconsciente — isso é impossível. O objetivo é escutá-lo. É trazer à luz as forças que atuam na sombra, para que as decisões possam ser, de fato, mais livres e alinhadas aos objetivos reais do negócio.
A psicanálise oferece o espaço e as ferramentas para essa investigação. Trata-se de um trabalho de coragem, onde o líder se permite questionar:
Por que essa situação específica me desestabiliza tanto?
O que essa pessoa ativa em mim?
Qual padrão eu estou repetindo aqui?
A jornada para se tornar um líder mais consciente é profunda e transformadora. Ela vai além de cursos de gestão e treinamentos de habilidades. É um mergulho naquilo que o constitui como sujeito.
Se você é um líder que busca entender as forças invisíveis que moldam suas decisões e o futuro da sua empresa, e está pronto para transformar autoconhecimento na sua maior ferramenta estratégica, convido-o para uma conversa exploratória.

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